segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pseudo ensaio sobre o ato de escrever


Escrevo. E quanto mais escrevo menos escrever me basta. É uma espécie de agonia, desassossego, tradução em movimento da minha alma atormentada.
Sentir em letras não necessariamente é uma forma clara de dizer o que se pensa.
A vida quando é redigida tem que ser intensa e imediata. Não pode ela cair em filosofias, sejam elas eruditas ou baratas. Ela tem que ser na lata, imprecisamente exata. Vida na veia sob a forma de palavras.
Escrever não é uma arte abstrata, tem que sangrar aquilo que fala, tem que escorrer aquilo que sente, tem que ser um ato alucinado e urgente.
Tenho total convicção que não sou de academia, sei que escrevo despida de regras, orientações, pudores e hipocrisias. Escrevo buscando a mais vagabunda e vulgar das poesias, a que só respeita a sonoridade, a pseudo-verbalização do texto, a sensação mais audível, a conversa companheira, prosa das esquinas, cumplicidade perfeita, via de mão dupla, um fala ou ouve o outro diz ou escuta.
Não pretendo ao escrever ser aceita na mais alta roda da literatura, o que penso a respeito da forma como se escreve pode vir a me rotular como absurda. Acho covarde a inserção de rótulos na literatura.
Quero apenas me libertar da loucura travestida de desejo de redigir tudo aquilo que sinto e percebo. Só que quanto mais escrevo menos me liberto, mais me encarcero. Prisão eterna, agonia perversa, desespero. Dependo do texto.
Sou e não sou o que escrevo. Sou e não sou quem existe. Tudo depende exclusivamente daquilo que se pretende, de como está sendo lido, da capacidade de alternar conscientemente discursos que se contradizem sem a culpa ou obrigação de manter uma única trajetória, definida e linear. Prefiro a trajetória circular, gosto da capacidade incontestável dos ciclos de manifestar sua capacidade de ir e retornar. Se não se vai não se volta com o conhecimento necessário. É preciso completar o itinerário das emoções propostas. A ida sempre tem que ser simultaneamente a volta. As palavras não devem ficar perdidas e soltas , elas tem que conhecer como se retorna.
A delimitação entre inferno e paraíso é tênue. Escrever é tomar a consciência  da existência dos mais insondáveis abismos na alma humana.
A paixão por escrever está na necessidade quase suicida da busca pelo abismo. Abismo de quem se é, de como se insere no mundo. Redigir a partir do raso para mergulhar no profundo, ausente de medos da mais visceral exposição de pensamentos e idéias.
Não se deve levar o ato de escrever tão violentamente a sério. Sempre contradigo meus próprios textos.

Um comentário:

  1. Mônica Querida, ao escrever desfolhamos nossos "eus", deslocamos os sentimentos e vivemos a ideia, o momento, o ir e vir sim, porque na Escritura está o mais sagrado palco de um Humano, a possível de liberdade.

    Um beijo grande e que bom estar te lendo.

    p.s. E temos uma secção Interiores em Vidráguas onde este texto conversaria muito bem com quem nos lê, posso transportá-lo, pode ser?

    Carmen.

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