sábado, 28 de agosto de 2010

Amor de Anjo e Lua

Ao recobrar a consciência se viu refletido em outros olhos que não os seus.
Quem se refletia também não era ele.
Era outro e ele ao mesmo tempo.
Descobriu-se então corpo estranho nele mesmo.
Um novo corpo para velhos sentimentos.
Um abismo puro de incoerência e medos.
Ali estava, de olhos abertos e alma deserta, a ser observado de perto por uma figura de simplicidade complexa.
Encantado, perguntou quem era ela.
Ela era tudo e era ele também.
Era algo e era alguém.
Contornos arredondados, pele clara e brilhante como seres humanos não tem.
Um ser que não se sabe o que é, nem de onde vem.
Observou então com cuidado cada detalhe do corpo dela.
Percorreu alucinado todo o desenho delicadamente abstrato da lua que ela era.
Exausto, adormeceu em seu colo enluarado como se fosse um poeta.
Enquanto dormia, ainda sob o efeito do desgaste que o exercício da paixão nele fazia, a lua confusa desaparecia.
Fugia assustada por ter conseguido realizar o que negava, mas desejava nas suas mais secretas fantasias.
Tornava-se ela neste momento, em completa mistura de sentimentos, realidade e magia.

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