Na maioria das vezes escrevo em primeira pessoa, o que não significa necessariamente que é a minha pessoa que está ali diretamente exposta. É evidente que a exposição existe, mas ela se dá indiretamente através da técnica pessoal que venho construindo para retratar o sentimento humano de uma forma relativamente convincente, poética e clara.
Um dos temas que prefiro é o universo feminino. Gosto dele pela multiplicidade de mulheres que verdadeiramente existem neste mundo. É fato que não é um dos temas mais fáceis, afinal o enxergar de uma mulher o feminino tem que se transformar em um exercício limpo e desprovido totalmente de defesas de genero para ser verdadeiro. Tenho que dizer e ponto. A voz e o debate não me cabem, é do leitor. É ele quem justa ou injustamente absolve o personagem da sua dor.
Não imponho idéias. Exponho observações que faço da vida e as transformo em pessoas imaginárias que através da minha ótica ganham forma, voz e vida própria.
É fato que escrever sobre o universo feminino é algo delicado e merecedor de uma enormidade de cuidados, mas não me abalo. Me sinto imensamente confortavel tanto por ser mulher e falar de um tema que é tão próximo e palpável quanto pela facilidade com que me entrego ao sacrificio de me deixar ser dominada enquanto escrevo pela personalidade complexa e intensa das minhas personagens.
Decidi publicar mais alguns trechos do livro ainda em estado bruto. Achei a primeira postagem uma experiência interessante. Continuem a comentar. Agradeço o carinho.
Inferno e paraíso são aqui e eu nem sei onde estou.
Não me importa a geografia do espaço se desconheço quem sou.
Meus contornos possuem um desenho maquiavélico e aterrorizador.
Vivo constantemente do desconhecer e da dor.
Minha agonia não conhece tempo nem espaço.
Sou um ser em farrapos, um angustiado.
Um desafiado desafiador.
Meus sonhos e pesadelos voláteis são assustadoramente mensuráveis e bem mais reais do que você certo dia imaginou.
Basta escutar meu lamento ensurdecedor.
Eis no que a ausência de vida me transformou.
Um zumbi de dores vazio de amor.
Um sopro de ausência e desapego.
Descobri infeliz e triste que a fé não existe.
Tudo o que se vive é uma forma de amor que distingue e isola quem ama e de quem é amado através de uma incomensurável distância não realizável que, sem esperança, é incapaz de ser recompensado.
Também descobri que não existe pecado, ele não passa da visão do lado que se acha certo a respeito do lado que se acha errado.
Não se pode e nem se deve me levar a sério, não passo de um condenado a nebulosidade da inexistência de um passado.
Não confie em mim, não acredite, não diga depois que eu nunca assumi a minha triste condição.
Ninguém poderá alegar ter sido enganado, traído, machucado.
Destes crimes me recuso a ser culpado.
Sou um ser que, apesar de atordoado e cansado, perambula por todos os lados buscando o meio mais rápido e fácil de fugir de um lugar nunca imaginado, de encontrar a cura para um mal que desconhecia ter me contaminado.
Fujo da loucura sã que me atormenta e me alimenta antropofagicamente como um fantasma alucinado que sem nenhuma pena me tortura com as minhas esperanças de ser imaginário.
Desconheço plenamente o que sou.
Minha condenação se resume a dor de não saber o que me trouxe, quem me levou, onde estou e para onde vou.
Um condenado a ignorância, filho de uma desconhecida dor.
Sou muitos e nenhum, ficção exposta, realidade contraditória, mais uma visceral história.
Sou um bandido poeta da ausência dos sentidos, sou um perigo a não ser combatido, covarde e destemido.
Me chamo Angelo.
Meu nome é meu único traço, o que me marca e dá sentido a tudo o que vivo ou faço, sou um eterno descompasso.
Busco com minhas pernas, braços e asas encontrar um espaço que não me pertence, onde sei que não me encaixo e vivo inconsciente, apenas para ter algo a ser procurado.
Sou um ser que se engana porque um dia foi enganado, uma alma profana, um monstro atormentado.
Se sou um anjo, não confesso.
Não me acusarei.
Não posso me aproveitar do fato de não saber apenas para aliviar meu desejo de me responder.
A única coisa que posso afirmar a meu respeito tem relação direta com o que trago como ferida que não para de bater em minhas costas.
Minhas asas me torturam de forma cruel e impiedosa.
Sou banal como as minhas paixões, um deserto mal assombrado de sentimentos, pensamentos e sensações .
As energias que me movem, ao mesmo tempo que me imobilizam, nada mais são do que meras contradições que no meu peito se cristalizam como se fossem diamantes, brilhantes, cortantes e raros.
Sou na verdade uma certeza desprovida de aspirações, fortaleza sem chão, rota sem direção, meta sem definição.
Não sou nada além de uma estrondosa e visceral paixão.
Estou transpirando em um novo livro. Gostaria de saber de estou no caminho certo. Aguardo comentários. Beijos carinhosos :])
Ao longe eu o admirava em segredo, e ao admirá-lo só enxergava em seu corpo o medo.
Era ele completo desespero.
A cada momento em que o seu corpo mudava, suas esperanças se transformavam em lamentos, tão sincronizados quanto a batida de suas asas que rasgavam impiedosas a sua carne, os seus sonhos e os seus desejos.
Não há esperança.
Ninguém atenderá aos seus apelos.
A trajetória já foi lançada violentamente contra o tempo.
Atordoada e despreparada me enxergo encantada por um ser que não conheço.
Amor de afago, sentimento.
Quanto medo.
Amor de poesia.
Impossível contê-lo.
Um desejo a cada dia.
Na espera de um mísero e inconcebível beijo.
Quero apenas nunca mais deixar de vê-lo.
Surpreendentemente me mantenho longe deste homem.
Assim a minha vida deve ser vivida, do amor banida.
Como é hoje, como foi ontem, como continuará sendo.
Simplesmente distante, próxima apenas dos meus mais íntimos segredos.
Observo querendo um corpo que se estraçalha.
Ao sabor do movimento incontrolável da completa inexistência de palavras.
Uma alma esfarrapada solta no nada.
O assistia inteiro, nu e verdadeiro, em pedaços e atos que se desfaziam como sopros de vento, rápidos e intensos.
Sem rastros que pudessem seguir os meus olhos, deixavam um espaço vazio e sombrio no meu pensamento.
Puro sofrimento.
Eu queria dar colo, mas a distância me impedia com seus irrefutáveis argumentos.
Queria me despir, estar nua, me oferecer por inteiro.
Sofri de agonia, de impossibilidade, pelo distanciamento.
Estava diante, mesmo que distante, da dor lancinante e inesgotável de um homem que não sabia que eu existia, em total e voluntária paralisia, ao ler viva sua história acontecendo.
Enquanto ele se contorcia, estava eu protegida e reclusa em minhas fases múltiplas.
Comecei a escrever uma série de textos chamada de Pseudo ensaios. Para que este exercício literário pudesse ser visualizado com sua própria forma decidi separá-lo em um novo blog. Aqui está o link da sua primeira postagem:
Pseudo ensaios de uma poeta http://post.ly/rSvx
Quando compramos um livro gastamos ou investimos o nosso dinheiro? A resposta vem através do tamanho do nosso envolvimento, se nos consideramos ou não leitores confessos.
Cultura não se compra, se busca. E o crescimento que buscamos tem como uma de suas grandes fontes a literatura. Não apenas aquela dos autores consagrados. Precisamos dos autores iniciantes com toda sua inocência e supostos vícios literários. Até o melhor de todos os escritores teve o seu árduo começo e seus inúmeros tropeços encadernados.
É graças a sua renovação que a literatura não está morta. Com toda virtualização do mundo é extremamente necessária para o pensamento humano o surgimento ininterrupto da palavra que a folha em branco transforma em páginas.
Interagimos em tempo real na mais alta velocidade, só não aprendemos a dar uma oportunidade para reconhecer com a mesma agilidade a nova literatura que em nossas portas todos os dias alternativamente bate.
Escrevo. E quanto mais escrevo menos escrever me basta. É uma espécie de agonia, desassossego, tradução em movimento da minha alma atormentada.
Sentir em letras não necessariamente é uma forma clara de dizer o que se pensa.
A vida quando é redigida tem que ser intensa e imediata. Não pode ela cair em filosofias, sejam elas eruditas ou baratas. Ela tem que ser na lata, imprecisamente exata. Vida na veia sob a forma de palavras.
Escrever não é uma arte abstrata, tem que sangrar aquilo que fala, tem que escorrer aquilo que sente, tem que ser um ato alucinado e urgente.
Tenho total convicção que não sou de academia, sei que escrevo despida de regras, orientações, pudores e hipocrisias. Escrevo buscando a mais vagabunda e vulgar das poesias, a que só respeita a sonoridade, a pseudo-verbalização do texto, a sensação mais audível, a conversa companheira, prosa das esquinas, cumplicidade perfeita, via de mão dupla, um fala ou ouve o outro diz ou escuta.
Não pretendo ao escrever ser aceita na mais alta roda da literatura, o que penso a respeito da forma como se escreve pode vir a me rotular como absurda. Acho covarde a inserção de rótulos na literatura.
Quero apenas me libertar da loucura travestida de desejo de redigir tudo aquilo que sinto e percebo. Só que quanto mais escrevo menos me liberto, mais me encarcero. Prisão eterna, agonia perversa, desespero. Dependo do texto.
Sou e não sou o que escrevo. Sou e não sou quem existe. Tudo depende exclusivamente daquilo que se pretende, de como está sendo lido, da capacidade de alternar conscientemente discursos que se contradizem sem a culpa ou obrigação de manter uma única trajetória, definida e linear. Prefiro a trajetória circular, gosto da capacidade incontestável dos ciclos de manifestar sua capacidade de ir e retornar. Se não se vai não se volta com o conhecimento necessário. É preciso completar o itinerário das emoções propostas. A ida sempre tem que ser simultaneamente a volta. As palavras não devem ficar perdidas e soltas , elas tem que conhecer como se retorna.
A delimitação entre inferno e paraíso é tênue. Escrever é tomar a consciência da existência dos mais insondáveis abismos na alma humana.
A paixão por escrever está na necessidade quase suicida da busca pelo abismo. Abismo de quem se é, de como se insere no mundo. Redigir a partir do raso para mergulhar no profundo, ausente de medos da mais visceral exposição de pensamentos e idéias.
Não se deve levar o ato de escrever tão violentamente a sério. Sempre contradigo meus próprios textos.