terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mais um trecho do novo livro...

Decidi publicar mais alguns trechos do livro ainda em estado bruto. Achei a primeira postagem uma experiência interessante. Continuem a comentar. Agradeço o  carinho.

Inferno e paraíso são aqui e eu nem sei onde estou.
Não me importa a geografia do espaço se desconheço quem sou.
Meus contornos possuem um desenho maquiavélico e aterrorizador.
Vivo constantemente do desconhecer e da dor.
Minha agonia não conhece tempo nem espaço.
Sou um ser em farrapos, um angustiado.
Um desafiado desafiador.
Meus sonhos e pesadelos voláteis são assustadoramente mensuráveis e bem mais reais do que você certo dia imaginou.
Basta escutar meu lamento ensurdecedor.
Eis no que a ausência de vida me transformou.
Um zumbi de dores vazio de amor.
Um sopro de ausência e desapego.
Descobri infeliz e triste que a fé não existe.
Tudo o que se vive é uma forma de amor que distingue e isola quem ama e de quem é amado através de uma incomensurável distância não realizável que, sem esperança, é incapaz de ser recompensado.
Também descobri que não existe pecado, ele não passa da visão do lado que se acha certo a respeito do lado que se acha errado.
Não se pode e nem se deve me levar a sério, não passo de um condenado a nebulosidade da inexistência de um passado.
Não confie em mim, não acredite, não diga depois que eu nunca assumi a minha triste condição.  
Ninguém poderá alegar ter sido enganado, traído, machucado.
Destes crimes me recuso a ser culpado.
Sou um ser que, apesar de atordoado e cansado, perambula por todos os lados buscando o meio mais rápido e fácil de fugir de um lugar nunca imaginado, de encontrar a cura para um mal que desconhecia ter me contaminado.
Fujo da loucura sã que me atormenta e me alimenta antropofagicamente como um fantasma alucinado que sem nenhuma pena me tortura com as minhas esperanças de ser imaginário.
Desconheço plenamente o que sou.
Minha condenação se resume a dor de não saber o que me trouxe, quem me levou, onde estou e para onde vou.
Um condenado a ignorância, filho de uma desconhecida dor.
Sou muitos e nenhum, ficção exposta, realidade contraditória, mais uma visceral história.
Sou um bandido poeta da ausência dos sentidos, sou um perigo a não ser combatido, covarde e destemido.
Me chamo Angelo.
Meu nome é meu único traço, o que me marca e dá sentido a tudo o que vivo ou faço, sou um eterno descompasso.
Busco com minhas pernas, braços e asas encontrar um espaço que não me pertence, onde sei que não me encaixo e vivo inconsciente, apenas para ter algo a ser procurado.
Sou um ser que se engana porque um dia foi enganado, uma alma profana, um monstro atormentado.
Se sou um anjo, não confesso.
Não me acusarei.
 Não posso me aproveitar do fato de não saber apenas para aliviar meu desejo de me responder.
 A única coisa que posso afirmar a meu respeito tem relação direta com o que trago como ferida que não para de bater em minhas costas.
Minhas asas me torturam de forma cruel e impiedosa.
Sou banal como as minhas paixões, um deserto mal assombrado de sentimentos, pensamentos e sensações .
As energias que me movem, ao mesmo tempo que me imobilizam, nada mais são do que meras contradições que no meu peito se cristalizam como se fossem diamantes, brilhantes, cortantes e raros.
Sou na verdade uma certeza desprovida de aspirações, fortaleza sem chão, rota sem direção, meta sem definição.
Não sou nada além de uma estrondosa e visceral paixão.
Talvez eu seja fruto da sua fértil imaginação.

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